O romance “Úrsula”, publicado originalmente em 1859, é uma ruptura na história da nossa literatura, onde, pela primeira vez, a realidade brasileira foi retratada pelo ponto de vista de personagens negros, algo inédito até então. Por padrão, escritores brancos basicamente ignoravam a visão dos escravizados, narrando exclusivamente a vida da parcela mais rica e escravocrata da população.
Ainda que a história narre o romance entre dois personagens brancos e da alta classe da época, a participação de três personagens negros, Túlio, Susana e Antero, é fundamental para se entender a sociedade escravocrata de seu tempo e a realidade, sonhos e esperança dos negros de nosso país. Em sua publicação original, Maria Firmina dos Reis não assinou a obra, esta foi publicada sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”.
Essa nova edição procurou manter a escrita o mais fiel possível da original, apenas revisando-a segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, firmado em 1990.
O livro traz ainda dois conteúdos extras e importantes para a trajetória literária da autora. O primeiro é a novela “Gupeva”, publicada originalmente em 1861. Uma pequena narrativa da história indígena no Brasil, retratando os conflitos familiares do indígena Gupeva e de sua filha Épica, apaixonada pelo marinheiro francês Gastão. Uma história sobre tragédia, dor e vingança, ilustrando o confronto e as diferenças culturais entre Brasil e França no período em que foi escrito.
O segundo conteúdo adicionado à obra é o conto “A escrava”, originalmente publicado na Revista Maranhense, em 1887. O conto aborda a problemática da discriminação racial em nosso país, dissecando o desacordo entre o discurso religioso de igualdade e a relação de poder entre senhores e escravizados.